jogos para ganhar dinheiro de graça Opinião - Álvaro Machado Dias: Editoras científicas usam trabalho servil e saqueiam o erário

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O caráter não corre em famílias， mas às vezes ele parece querer nos convencer do contrário. Ghislaine Maxwell， ex-companheira de Jeffrey Epstein， é filha de Robert Maxwell， barão do mercado editorial inglês， que morreu misteriosamente em seu iate em 1991， dias antes de vir à tona que havia roubado o fundo de pensão dos seus funcionáriosjogos para ganhar dinheiro de graça， deixando-os a ver navios.

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Uma de suas grandes sacadas empresariais foi convencer cientistas ambiciosos de que tinha na mão prestigiosos cargos de editores em periódicos que revolucionariam a maneira como o mundo enxerga a ciência. Como vários aceitaram， os cargos de fato adquiriram prestígio e assim surgiu o mercado moderno das publicações acadêmicas， no início da década de 1950 —o único ao qual se aplica o conceito de tecnofeudalismo， de Yanis Varoufakis， que infelizmente nunca percebeu isso.

Robert Maxwell em 1989 - Wikimedia Commons/Reprodução tigre jogos

Maxwell havia fundado a Pergamon Press， com um modelo de negócios singular: colocar a totalidade dos acadêmicos para trabalhar de graça e depois lhes vender a produção por valores exorbitantes. Muitos duvidaram que pudesse dar certo， mas Robert foi em frente， criando centenas de periódicos. Foi ele quem inventou o International Journal of (qualquer coisa).

Em sua linha de montagem， vendida para a Elsevier e copiada por outros gigantes， editores recebem em visibilidade， enquanto os revisores são como servos， trabalhando nos produtos da empresa sem qualquer tipo de ganho financeiro ou social. Maxwell era um gênio e entendia a relação profunda entre orgulho intelectual e estupidez.

É verdade que também contou com a sorte. Em 1964， Eugene Garfield criou um índice proprietário do impacto de um artigo científico (SCI)， depois vendido para a Thomson Reuters， que o converteu em sinônimo de relevância acadêmica.

O índice é o que explica por que os autores (e o Estado) topam pagar R$ 60 mil para publicar um artigo na Cell ou na Nature e outra bagatela para assinar a revista e poder lê-lo. O resultado é uma indústria na qual as margens passam de 40%， que， em 2024， gerou três vezes o lucro das três maiores do streaming de vídeo somadas.

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Em face do disparate， muitas plataformas alternativas surgiram. A melhor delas é a Scielo (Fapesp-Bireme， 1996). Os periódicos são sérios， os acessos， gratuitos， e a distribuição global， em inglês， não falha. Não obstante， permanece subutilizada pelos pesquisadores sêniores de áreas como a minha (neurociências)， dada a importância de publicar nas revistas do oligopólio inventado por Maxwell para se manter a carreira internacionalizada， posto que ali é que está o hype.

Isso não vai mudar. Mas é possível que a relação se torne menos predatória. Pesquisadores americanos estão processando as seis maiores do setor por agirem de forma orquestrada e monopolista para não pagarem os revisoresjogos para ganhar dinheiro de graça， proibir os autores de submeterem seus artigos a mais de um periódico de cada vez e mesmo de discutir o próprio trabalho após a submissão.

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